Lenta, a raça esmorece, e a alegria
É como uma memoria de outrem. Passa
Um vento frio na nossa nostalgia
E a nostalgia torna-se desgraça.
Pesa em nós o passado e o futuro.
Dorme em nós o presente. E a sonhar
A alma encontra sempre o mesmo muro,
E encontra o mesmo muro ao despertar.
(...)
Nada. Nem fé nem lei, nem mar nem porto.
Nada. Nem fé nem lei, nem mar nem porto.
Só a prolixa estagnação das mágoas,
Como nas tardes baças, no mar morto,
A dolorosa solidão das águas.
(...)
Torvelinho de duvidas, descrença
Torvelinho de duvidas, descrença
Da própria consciência de se a ter,
Nada há em nós que, firme e crente, vença
Nossa impossibilidade de querer.
(...)
Dorme, mãe Pátria, nula e postergada,
Dorme, mãe Pátria, nula e postergada,
E, se um sonho de esperança te surgir,
Não creias nele, porque tudo é nada,
E nunca vem aquilo que há de vir.
(...)
Como - longínquo sopro altivo e humano! -
Como - longínquo sopro altivo e humano! -
Essa tarde monótona e serena
Em que, ao morrer, o imperador romano
Disse: Fui tudo, nada vale a pena.
F.Pessoa
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