domingo, 5 de julho de 2009


Lenta, a raça esmorece, e a alegria

É como uma memoria de outrem. Passa

Um vento frio na nossa nostalgia

E a nostalgia torna-se desgraça.


Pesa em nós o passado e o futuro.

Dorme em nós o presente. E a sonhar

A alma encontra sempre o mesmo muro,

E encontra o mesmo muro ao despertar.

(...)
Nada. Nem fé nem lei, nem mar nem porto.

Só a prolixa estagnação das mágoas,

Como nas tardes baças, no mar morto,

A dolorosa solidão das águas.

(...)
Torvelinho de duvidas, descrença

Da própria consciência de se a ter,

Nada há em nós que, firme e crente, vença

Nossa impossibilidade de querer.

(...)
Dorme, mãe Pátria, nula e postergada,

E, se um sonho de esperança te surgir,

Não creias nele, porque tudo é nada,

E nunca vem aquilo que há de vir.

(...)
Como - longínquo sopro altivo e humano! -

Essa tarde monótona e serena

Em que, ao morrer, o imperador romano

Disse: Fui tudo, nada vale a pena.


F.Pessoa

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