sábado, 4 de julho de 2009

Atracção


" "Amo-te menos". Há meses que estas palavras lhe têm doído. O pensamento de que ela o abandonou porque o deixara de amar tem vindo a magoá-lo como um osso mal sarado. "É uma coisa terrível que se faz a si próprio, tornar-se menos amado". Ele tem arrastado este dano atrás de si como um crime não admitido. Ele tem-se odiado a si próprio por se ter feito menos amado. Tem-na odiado por ela amar de um modo tão imperfeito e implacável. Mas, quando passa por ele aquele vento frio de início de Inverno, ele vê o que até então aí não vira, durante todos os meses, em que se sentira de coração destroçado. O seu desaparecimento foi um passo para o proteger a ele, para o colocar no alto de uma estante, longe de mais quaisquer danos. Para o devolver em segurança às coisas que ele não quisera perder. Para lhe provar que não lhe pediria para se sacrificar por ela. Ela partira, não porque o amava menos, mas partira porque o amava mais. Deixava-o com tudo, menos com ela. A história, afinal, era sobre ele. "


in Atracção

Sem comentários:

Enviar um comentário